29 de Agosto de 2017
DOCUMENTO EM DESTAQUE – AGOSTO 2017
DOCUMENTO EM DESTAQUE – AGOSTO 2017
No âmbito do projeto “Documento em destaque 2017”, o Arquivo Distrital de Aveiro irá mensalmente durante todo o ano de 2017 destacar um documento que custodia nos seus acervos com a seguinte temática: “Empresas e Empresários das Indústrias Transformadoras na Sub-Região da Ria de Aveiro, 1864-1931”.
O documento em destaque no mês de agosto de 2017 refere-se à indústria de Adubos da Ria de Aveiro, em concreto à empresa “Adubos da Ria de Aveiro” que iniciou a sua atividade enquanto sociedade anónima de responsabilidade limitada, em 22 de outubro de 1921, com vista à preparação e venda de adubos orgânicos e produtos correlativos. A escritura que apresentamos tem o título “Constituição da Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada com a denominação de Empresa dos Adubos da Ria de Aveiro”.
Na sociedade atrás referida foram outorgantes e consequentemente 10 fundadores:
– Doutor Manuel Homem de Melo da Câmara, (Conde de Águeda); Elio de Melo Rego, casado, negociante; Doutor Joaquim Soares Pinto, solteiro, proprietário e advogado; António Henriques Júnior e Pompeu da Costa Pereira, casados, negociantes e proprietários, na qualidade de Diretores em exercício do Banco Regional de Aveiro; Doutor Egas Ferreira Pinto Basto, solteiro, professor na Universidade de Coimbra; Doutor António Maria da Cunha Marques da Costa, casado, médico; Doutor Eusébio Barbosa Tamagnini Matos Encarnação, casado, professor na Universidade de Coimbra; Pedro Ferreira Rosado, solteiro, maior oficial da Marinha; Ramiro de Magalhães, casado, negociante e proprietário.
Foi a seguir à Guerra de 1914-1918 que a apanha do moliço e a sua utilização como adubo atingiram os níveis mais elevados de prosperidade e em 1921 é alcançado o valor máximo, com 78 mil toneladas. E é precisamente em 1921, a 22 de Outubro, que é criada a Empresa de Adubos da Ria de Aveiro, como se pode verificar pela escritura de “Constituição de Sociedade Anónima de responsabilidade limitada com a denominação de Empresa dos Adubos da Ria de Aveiro”, tendo em vista a “preparação e venda de adubos orgânicos e produtos correlativos”. Trata-se, sem dúvida alguma, de uma iniciativa industrial ambiciosa, considerando o capital social da empresa de um milhão de escudos (mil contos), totalmente subscrito pelos seus dez fundadores.
A escritura da empresa em apreço pode ser consultada no livro de escrituras do notário Silvério Augusto Barbosa de Magalhães, liv. Nº108, de folhas 45 a 50v. Livro este sob custódia do Arquivo Distrital de Aveiro com a cota atual: PT/ADAVR/NOT/CNAVR2/001/0376.
Teresa Valente
Assistente Operacional/ADAVR
Fonte: Rodrigues, Manuel Ferreira, – Empresas e empresários das indústrias transformadoras, na sub-região da Ria de Aveiro, 1864-1931. Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. 733 p. ISBN 978-972-31-1322-8
ADUBOS DA RIA DE AVEIRO
Nos séculos XVIII, XIX e primeira metade do século XX, a apanha do moliço e a sua utilização como adubo constituiu um negócio próspero. Moliço é o nome dado a um conjunto de algas, sargaços e outras plantas que vivem no leito submerso da Ria de Aveiro. Como adubo era aplicado logo após a colheita, sendo transportado para os campos, primeiro em carros de bois e depois em camionetas. Esta aplicação destinava-se sobretudo aos terrenos da zona sul da Ria, mais distantes dos locais de colheita. Outra forma de aplicação era a seco: o moliço era estendido em terrenos ligeiramente inclinados, onde lhe era extraída uma percentagem de água que representava uma sobrecarga inútil. Não se sabe ao certo a origem da palavra moliço, mas parece não haver dúvida que chegou até nós através do castelhano mollicio que significa mole e o castelhano talvez o tenha ido buscar ao latim molliciu que tem o mesmo significado.
Foi a seguir à Guerra de 1914-1918 que a apanha do moliço e a sua utilização como adubo atingiram os níveis mais elevados de prosperidade e em 1921 é alcançado o valor máximo, com 78 mil toneladas. E é precisamente em 1921, a 22 de Outubro, que é criada a Empresa de Adubos da Ria de Aveiro, tendo em vista a “preparação e venda de adubos orgânicos e produtos correlativos”. Trata-se, sem dúvida alguma, de uma iniciativa industrial ambiciosa, considerando o capital social da empresa de um milhão de escudos (mil contos), totalmente subscrito pelos seus dez fundadores. A criação desta empresa contou com a participação do Banco Regional de Aveiro e de alguns nomes ligados ao movimento regionalista aveirense.
Resta dizer que a profissão de moliceiro está praticamente extinta e que os poucos moliceiros registados na capitania do porto de Aveiro ganham a vida principalmente no turismo. Os barcos moliceiros, que antigamente carregavam o moliço que era vendido para adubo, são agora postos ao serviço de turistas para pequenos passeios nos canais urbanos da cidade.