27 de Setembro de 2018
Documento em destaque – setembro
O documento em destaque no mês de setembro de 2018 refere-se à fábrica de pelarias e curtumes “Empresa Fabril e Comercial de Ovar, Lda.” que iniciou a sua atividade enquanto sociedade comercial por quotas, em 13 de novembro de 1920.
Em 25 de outubro de 1920, foi originalmente criada a Empresa de Curtumes de Ovar, sob a firma social Silva, Tavares & Companhia, para a “exploração do comércio e indústria de pelarias e curtumes e montagem da respetiva fábrica”. A sua fundação era constituída por sete indivíduos de Ovar e pelo Banco Regional de Aveiro, com um capital social de 250 000$00. Esta empresa foi, no entanto, dissolvida menos de um mês depois da sua instituição, a 9 de novembro de 1920, não chegando a construir qualquer unidade industrial.
Por razões atualmente desconhecidas, a 13 de novembro de 1920, quatro dias depois da dissolução da sociedade, cinco dos sete sócios originais e dois adicionais formaram uma nova empresa, a qual designaram Empresa Fabril e Comercial de Ovar, Lda., com o capital social de 30 000$00 e o mesmo objeto social da sociedade original, com sede na Rua Padre Ferrer n.º 79, na Vila de Ovar.
Eram sócios desta empresa: Banco Regional de Aveiro (10 000$00), António Gonçalves Santiago (4 500$00), Albino Borges de Pinho (3 000$00), António Lopes Fidalgo (3 000$00), Domingos Pereira Tavares (2 500$00), Ernesto Augusto Zagalo de Lima (3 000$00) e José Pinho da Cruz (4 000$00).
O jornal aveirense O Democrata relatava, na sua edição n.º 693 de 24 de setembro de 1921, que se tratava de “um melhoramento importante para aquela laboriosa vila [Ovar], que oferece já um desenvolvimento industrial notável o que, aliado ao seu grande labor comercial, faz de Ovar uma terra das mais ricas e prósperas do distrito”. A fábrica era descrita como “interessante pela linha elegante da sua construção, onde a luz e o ar entram francamente dando ao edifício toda a higiene e asseio que tal industria modernamente reclama”, realçando ainda o facto de a mesma se encontrar num “local que reúne as mais rigorosas condições de higiene e de salubridade públicas”. A unidade industrial seria constituída por uma estufa, que pelas suas “largas dimensões”, comportaria “centenares de peles”, tanques destinados “às operações do curtume” e “da cacinação” e teria já reservado um espaço destinado à “montagem duma oficina mecânica de calçado”, projeto que não se terá concretizado.
Apesar da ambição do projeto, a Empresa Fabril e Comercial de Ovar, Lda. não conseguiu afirmar-se no mercado. A existência de algumas fábricas do mesmo género na região de Aveiro, com presença já consolidada, terá contribuído para que a sociedade ovarense não tivesse o sucesso esperado, pelo que esta foi desativada cerca do ano de 1925. No jornal O Povo de Ovar n.º 26, de 21 de novembro de 1929, é mencionado que as instalações já se encontrariam, então, à venda.
No local onde, há quase 100 anos, existiu esta fábrica, pouco existe que lhe faça menção. Restarão apenas os tanques de curtume das peles, escondidos debaixo de entulho e vegetação, num terreno baldio junto ao atual Bairro da Misericórdia.
A escritura desta empresa pode ser consultada no livro de escrituras do notário Ângelo Zagalo de Lima, liv. nº 1614-4, de folhas 7v a 10v. Livro este sob custódia do Arquivo Distrital de Aveiro com a cota atual: PT/ADAVR/NOT/CNOVR2/001/0544.
João Leal
Assistente Técnico/ADAVR
Fontes:
Rodrigues, Manuel Ferreira, – Empresas e empresários das indústrias transformadoras, na sub-região da Ria de Aveiro, 1864-1931. Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. ISBN 978-972-31-1322-8;
Jornal A Pátria (n.º 653, f2, 18-11-1920);
Jornal O Democrata (n.º693, f2, 24-09-1921);
Jornal O Povo de Ovar (n.º 26, f3, 21-11-1929);
Revista Reis (Ovar) (n.º 43, 2009).