19 de Outubro de 2017
DOCUMENTO EM DESTAQUE – OUTUBRO 2017
No âmbito do projeto “Documento em destaque 2017”, o Arquivo Distrital de Aveiro irá mensalmente durante todo o ano de 2017 destacar um documento que custodia nos seus acervos com a seguinte temática: “Empresas e Empresários das Indústrias Transformadoras na Sub-Região da Ria de Aveiro, 1864-1931”.
O documento em destaque no mês de Outubro de 2017 refere-se à Fábrica de Louça dos Santos Martyres que iniciou a sua atividade a 14 de Fevereiro de 1905, a qual tinha por objetivo a fabricação de louça de uso comum e utilidade imediata.
Na sociedade atrás referida foram outorgantes:
João de Pinho das Neves Aleluia
Feliciano de Pinho das Neves Aleluia
João Bernardo Júnior
António de Lima
João Gonçalves
A Fábrica de Louça dos Santos Martyres teve origem na saída de alguns trabalhadores, pintores da Fábrica de Louca da Fonte Nova, os quais capitaneados por João de Pinho das Neves Aleluia fundaram outra unidade de fabrico de louça e azulejo.
A escritura da constituição da Sociedade “Fábrica de Louça dos Santos Martyres” pode ser consultada no livro de escrituras do notário de Manuel Cação Gaspar, Liv. 34, de folhas 8v a 10v. Livro este sob a custódia do Arquivo Distrital de Aveiro com a cota atual: PT/ADAVR/CNAVR5/001/0034.
A escritura de Dissolução da Sociedade pode ser consultada no livro de escrituras do notário Peixinho, Livro 37, de folhas 9 a 11. Livro este sob custódia do Arquivo Distrital de Aveiro com a cota atual: PT/ADAVR/CNAVR5/001/0037.
Isabel Brilhante
Assistente Técnica/ADAVR
Fonte: Rodrigues, Manuel Ferreira, – Empresas e empresários das indústrias transformadoras, na sub-região da Ria de Aveiro, 1864-1931. Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. 733 p. ISBN 978-972-31-1322-8
“A Fábrica de Louça dos Santos Mártires, 1905-1907
Foram certamente as enormes dificuldades por que a Fábrica de Louça da Fonte Nova e a significativa procura de materiais de construção na primeira década deste século que terão levado alguns dos seus pintores e outros trabalhadores, capitaneados por João de Pinho das Neves Aleluia 81876-1935), a sair para fundarem uma outra unidade de fabrico de louça e azulejo. Foi, poi, a primeira fábrica nascida com operários formados na Fábrica de Louça da Fonte Nova.
Por escritura de 14 de Fevereiro de 1905, João de Pinho das Neves Aleluia e outros «constituem-se em sociedade de capital e indústria» para a «fabricação de louça de uso comum e utilidade imediata com a designação de Fábrica de Louça dos Santos Mártires», no largo do mesmo nome, hoje Largo do Conselheiro Queirós.
O tempo de duração da sociedade era de dezanove anos, exatamente o tempo de validade do contrato de arrendamento do terreno, celebrado com o fim expresso de ali virem a instalar a fábrica, junto de um canal da ria, na cidade de Aveiro. Segundo João Augusto Marques Gomes, nessa propriedade, «da família dos Rangéis, esteve para ser estabelecida em 1822 a grande fábrica de porcelanas que anos depois José Ferreira Pinto Basto fundou na Vista Alegre.
A sociedade de capital e indústria impunha a cada sócio, além da entrada com uma quota de 250$000 réis, «a sua indústria e aptidões». O administrador e caixa da sociedade» – acrescenta a escritura fundadora – seria João Aleluia «e só ele poderá usar da firma social». Nessa qualidade, deveria «confecionar o regulamento de trabalho interno da fábrica» e decidir «sobre a forma de cumprimento das condições deste contrato» Por fim, determinava a escritura que «nenhum dos sócios poderá associar-se nem prestar serviços da mesma natureza (fora da fábrica), sob pena de perder o direito ao seu capital estipulado neste contrato, em benefício dos demais sócios»
No final de Fevereiro, a imprensa local informava que estavam «já adiantadas as instalações, incluindo o forno e tanques». A primeira fornada, composta por «azulejos e louça de fantasia (imitação do japonês) e louças de uso comum», é publicitada no início de Junho de 1905. Um ano depois, no final de Abril de 1906 – já com a produção muito diversificada – , a sociedade dissolve-se e João Aleluia torna-se o único proprietário da novel fábrica de cerâmica
Cinco anos mais tarde, em 8 de Setembro de 1917, transfere para a zona do Cojo a sua Fábrica de Louça dos Santos Mártires, Ld.ª, que passaria a chamar-se Fábrica Aleluia, Louças e Azulejos.
O canal do Cojo via, assim, confirmada a sua vocação de «zona industrial» da cidade.”
Fonte:
Rodrigues, Manuel Ferreira
Os industriais de cerâmica: Aveiro, 1882-1923 / Manuel Ferreira Rodrigues. – Análise Social, vol. XXXI, 1996; p. 631-682.